Inspectores da Educação abandonam cargos após cortes de 400 euros nos salários (JN)
Quinze dos 20 inspetores da Inspeção-Geral da Educa-ção e Ciência (IGEC) admitidos no ano passado em período experimental, após um concurso público de recrutamento que se prolongou por mais de três anos, já comunicaram ao inspetor geral que não aceitarão a nomeação de-finitiva. Descontentes com os cortes salariais que chegam a superar os 400 euros, vão sair da IGEC em junho e voltarão às es-colas de origem. “Tragicamente, a esmagadora maioria regressará à carreira do-cente, se nada mudar nas condições em que trabalham: a perda salarial mensal média é de 463,29 euros [ilíquidos], agravada pela progressão na carreira inspetiva mais desfavorável”, alerta o Sindicato dos Inspetores da Educação e do Ensino, presidido por Bercina Calçada. Enquanto um docente pode atingir uma remuneração equivalente ao topo da carreira em 34 anos, na IGEC tal só é possível ao fim de 100 anos, desde que te-nham “bom” na avaliação de de-sempenho. Um dos inspetores confidencia que se sente “frustra-do e defraudado”, porque tirou um mestrado e desempenhou car-gos diretivos em escolas para po-der ser admitido na IGEC, onde sempre sonhou trabalhar.
Desde então, está a receber menos 300 euros líquidos. “Como sou do qua-dro e afeto ao Ministério da Educação, achei que, pelo menos, ia ter a mesma remuneração.”
PAGAR PARA TRABALHAR O inspetor manifesta “vergonha”, porque passou a depender da “mãetrocínio” para fazer face às despesas, que se irão agravar. Terá de se deslocar a uma escola a 500 quilómetros de distãncia durante uma semana e só receberá 50 euros por dia de ajudas de custo. “Te-nho de pôr dinheiro do meu bolso para trabalhar. Se soubesse, jamais teria concorrido”, sublinha. O JN falou, ainda, com outra ins-petora, que também se sente en-ganada por receber menos 320 euros, quando “há professoras na IGEC, em regime de mobilidade, que mantêm o vencimento” que recebiam nas escolas de origem, com autorização do Ministério da Educação. “Na nossa situação, isso não se aplicou”, denuncia. “Compreendo que, durante o curso, houvesse uma redução remuneratória, mas depois não. O di-nheiro não é tudo, mas há limites. Se isso estivesse claro, nunca teria concorrido”, assegura ao JN, sen-tindo-se “defraudada”. Os dois inspetores têm a expec-tativa de que os ministérios da Educação e do Ensino Superior, que tutelam a IGEC, equiparem as tabelas remuneratórias.
O valor de referência do salário que constava no aviso de abertura do concurso era de 1664,91 euros, mas deixava em aberto a possibilidade de ser negociado, o que não sucedeu, apesar das tentativas nesse sentido. Aliás, esse terá sido o motivo para que as 24 vagas abertas no concurso, lançado em 2018 não te-rem sido preenchidas, com a admissão apenas de 20 inspetores. No dia 19, está prevista uma reunião entre representantes do Sin-dicato dos Inspetores da Educação e do Ensino e dos dois ministérios. “É minha profunda convicção que será encontrada uma solução para impedir a saída destes colegas”, acredita Bercina Calçada. O JN tentou obter esclarecimentos dos dois ministérios, mas não quiseram prestar declarações.
Alexandra Barata alexandra.barata@extjn.pt
Fonte: Jornal de Noticias